domingo, 13 de maio de 2012

SÓCRATES ERA ATEU?



          Há quem se pronuncie no sentido de elencar o dito filósofo no rol dos famosos ateus. Uma revista especializada em história chegou a publicar uma matéria relatando Sócrates como um ateu.
          A associação do filósofo com o ateísmo pode ser pelo fato dos gregos terem passado à história como uma sociedade pensante, racional, enquanto esta condição é contraposta à religiosidade.
          Mas ele não foi ateu.
          Sócrates foi julgado por 500 juízes e condenado a beber cicuta (uma espécie de chá venenoso) por dois motivos especiais.
         O primeiro motivo tem ligação com os fatos ocorridos nos anos 411, 404 e 401, quando houve diversas tentativas de golpe contra a democracia ateniense, todas sem êxito. Dentre os principais elementos envolvidos nessa tentativa estavam os discípulos diretos de Sócrates. Vale lembrar que o sistema democrático apresentado pelos gregos nunca foi bem visto pela “trindade” da filosofia grega (Sócrates, Platão e Aristóteles), visto que, segundo os três, somente filósofos deveriam gerir o Estado.
          No entanto, a democracia permite que ascendam ao poder qualquer do povo, guardadas as condições mínimas para tal intento. O fato dos discípulos de Sócrates se envolverem na tentativa de golpe levou o Estado a julgar que o preceptor dos mesmos (ou seja, Sócrates) fosse o grande responsável por aquela situação. Por isto foi acusado de estar corrompendo a juventude.
          O segundo motivo da condenação aponta para o fato de Sócrates ter blasfemado contra os deuses gregos, mas não pelo fato dele ser descrente com relação a esses deuses; muito pelo contrário: Sócrates era crente em Zeus e, dos escritos que há acerca do filósofo, é possível ver claramente que ele se reporta de modo exaustivo a fatos de ordem espiritual, de cuja crença nunca se desgarrou. Estava certo de que gozaria de paz eterna. Platão discípulo de Sócrates em sua obra Fédon descreve que: “agrupam-se os discípulos à volta do mestre amado. Chama, Sócrates, um deles para ao pé de si e afaga-lhe os cabelos enquanto explica as suas ideias sobre a vida e a morte, e a imortalidade da alma. É a morte ou um sono eterno, suave esquecimento imortal em que não existe perseguição, nem injustiça, nem desilusão, nem sofrimento, nem aflição ou é uma porta através da qual passamos da terra para o céu, o átrio que conduz ao palácio de Deus. E lá meus amigos ninguém é morto por suas opiniões... Alegrem-se, portanto, e não deplorem o meu pensamento... Quando me descerem à sepultura, digam que estão a enterrar-me apenas o corpo e não a alma... todo o longo discurso que acabo de fazer para vos demonstrar que, ao beber o veneno, não permanecerei convosco, mas que vos deixarei e irei gozar felicidade e bem-aventurança.
          Na verdade, o real motivo da acusação de blasfêmia é pelo fato dele ter afirmado que tinha um oráculo pessoal, comunicação direta com Delfos, algo não aceito na religião grega.
          Veja a descrição de Platão sobre o momento em que Sócrates está prestes a beber a cicuta: “Aproxima-se a hora do pôr do sol. Entra o carcereiro com a cicuta. Diz o carcereiro: - Peço-vos que não vos zangueis comigo, oh Sócrates, pois outros como sabeis, são a criminosa causa de vossa morte, e não eu. Isto dizendo, o carcereiro estende a taça a Sócrates e rompe em pranto ao voltar-lhe as costas. Nós outros, narra Platão, também não pudemos por mais tempo suportá-lo, e, apesar de nós mesmos, corriam-nos abundantes as lágrimas... Apenas Sócrates se mantinha calmo. Dizia Sócrates: - Que tolice é essa? Mandei embora as mulheres principalmente para evitar uma cena semelhante... Aquietai-vos, pois, e deixai-me morrer em paz... pois ao menos é permitido, como na verdade é dever, orar aos deuses, para que bendigam nossa viagem e a tornem feliz. Isso é o que lhes peço e assim seja.”
          Incrivelmente, apesar de todo o saber que lhe é atribuído, não se separou das crenças relacionadas aos deuses gregos.
          Sócrates nem era ateu nem deísta. Era teísta convicto.
          Penso que se os ateus precisam de alguém para enfileirar as suas trincheiras, o majestoso filósofo grego está fora deste time. Sócrates cria, não está em questão a natureza da fé de Sócrates, mas apenas registrar sua fé. O Pr. Caio Fábio diz que em via de regra, o ateísmo nada mais é do que uma resposta de desilusão, para com a religião judaico-cristã, com raríssimas exceções, uma vez que, não encontramos índios ateus, pois a fé é inerente ao gênero humano.
          Crer ou não é uma questão relacionada a subjetividade de cada um de nós, apenas sejamos mais coerentes em usar personagens históricos tão relevantes para respaldar o que quer que seja!  




David Sander Soares Pinheiro

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